POLÍTICAS ECONÔMICAS COM OBJETIVOS DIVERGENTES
27-03-2025
Em entrevista recente à CNN Money, o Secretário de Política
Econômica, órgão do Ministério da Fazenda, Guilherme Motta, o qual deveria traçar
as linhas mestras das funções das políticas monetária, cambial e fiscal, tem
enfatizado que o governo se preocupa profundamente com o cenário inflacionário.
Até aí tudo é muito cabível na conjuntura atual. Entretanto, ele se referiu a
que a equipe econômica pretende reduzir preços sem penalizar o crescimento
econômico, os investimentos e o nível de emprego no Brasil. Um conjunto de
divergências. O governo não tem que impor redução de preços, visto que eles são
formados nos mercados de bens e serviços, a não ser os preços administrados pelos
órgãos governamentais, e, mesmo assim, compete às agências reguladoras analisar
e definir preços, em função de custos e de margens de lucro. A economia vem de
um ano passado aquecida e com maior demanda agregada do que oferta agregada, tendo-se
refletido em processos inflacionários.
Então, o duelo de forças poderia ocorrer, refletido na
contenção da demanda agregada aquecida, ou se aumentando a oferta agregada, ou
as duas coisas ao mesmo tempo e em doses diferentes. Controlar preços de
mercado nunca deu certo. Aliás deu muito errado com os Planos Econômicos do
século passado (1986 a 1991), tais como o Plano Cruzado, o Plano Cruzado II, o
Plano Bresser, o Plano Verão, o Plano Collor e o Plano Collor II. Fracassos
que, desde 1991, nenhum governo ousou repetir. Só quando deixou de controlar
preços, com o Plano Real (1994) é que as políticas monetária, cambial e fiscal
foram precisas para a estabilidade econômica, que passou a ocorrer no País.
No quadro econômico atual, com uma inflação fora do controle,
estimada pelo mercado financeiro para este ano em 5,65%, fora do centro da meta,
mais o viés de alta, somando 4,50%, as declarações de membros da equipe
econômica se tornam vazias, tais como a do Ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, acreditando que a super safra vindoura e a melhora no quadro externo,
conjuntamente, irão fazer a inflação ceder, quando, na verdade, a inflação
parece que poderá recuar devido às altas taxas básicas de juros, no médio
prazo, até um ano, praticadas e não de fatores conjunturais, que poderão ser
favoráveis. O Presidente da República, Lula, vinha fazendo muitas críticas às
altas taxas de juros, praticadas pelo Banco Central, como se baixá-las, sem
mais, nem menos, reduziriam a inflação. O Vice-Presidente da República, que é
também Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo
Alckmin, fez pior. Depois de reunir-se com as classes produtoras, decidiu que
seriam retirados tributos de nove produtos alimentares. Mas, que passaria pela
Câmara de Comércio Exterior. Por fim, anteontem, declarou que irá sugerir ao
Banco Central (quem calcula o custo de vida é o IBGE), que retire do indicador
da inflação oficial os preços da cesta de alimentos e os preços da energia
elétrica. Isso implicaria em manipulação da inflação e já houve isto no período
acima referido, do século passado, com desastres dos preços, retornando em bola
de neve. Por seu turno, a Ministra das Relações Institucionais, Gleisi
Hoffmann, expressando sua preocupação com a política monetária atual,
classificando-a como “muito contracionista”, manifestou esperança de que o
Banco Central leve em consideração a realidade econômica do País para adotar
uma política mais compatível. Ora, se o Banco Central flexibilizar a taxa
básica de juros, sem levar em consideração os mercados, aí é que a inflação
poderá explodir. Por seu turno, a Ministra do Planejamento, Simone Tebet,
declarou anteontem, no programa Bom Dia Ministra, da EBC, que “Nós precisamos
fazer ajustes fiscais mais robustos no futuro, sem tirar direito de ninguém.
Não precisa tirar um direito. Porque tem tanta gordura para fazer”. Poxa, não é
verdade, visto que o governo vem de sucessivos déficits fiscais mensais, não
assumindo “gordura”, mas “magreza”. Por fim, ontem, o Ministro das Minas e
Energia está indicando à Petrobras, relativamente subordinada a sua área, que
reduza os preços dos combustíveis, para combater à inflação. E os acionistas
concordam com isto?
Nesta lauda se
procurou colocar claramente que o governo federal, em face da crescente queda
de popularidade, está no desespero de controlar a inflação e, como de outras
vezes, atitudes desesperadas pioram o processo inflacionário, visto que pioram
as expectativas w aumentam as incertezas do futuro.
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